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Resenha do Livro Liberdade de Ser – Edna Perotti.

Ser livre para ser feliz!

Edna Maria Barian Perrotti²

quando eu abro os olhos, logo pela manhã, eu sou a única pessoa que pode decidir se hoje eu quero ser feliz ou se hoje eu quero ser triste; se eu vou ficar na cama, lamentando porque o meu dia anterior não foi muito legal por eu não ter o emprego dos sonhos, ou se vou levantar, vou olhar pro céu, vou agradecer por estar viva, vou agradecer porque eu tenho saúde e vou atrás dos meus objetivos.   

                                                                                                  (Liberdade de Ser, p.129)

É claro que há muitas pessoas que desenvolvem seu jeito de viver de forma muito rica, mas não podemos negar que a maioria está vivendo uma época de relacionamentos superficiais, quer no campo amoroso, quer no social e mesmo no profissional. À medida que o mundo se torna mais tecnológico, menos tempo sobra para o aprofundamento das questões essenciais e existenciais que se colocam diante do ser humano no dia a dia.

Corremos para dar conta das exigências do emprego, fazendo home office depois do expediente e nos fins de semana; para realizar todas as tarefas domésticas; para exercitar o corpo na academia, desviando o olhar, entre uma atividade e outra – algumas dezenas de vezes diariamente –, para o WhatsApp, para o Facebook, para os aplicativos X e Y.

Ao final da  louca e estressante jornada, estamos exaustos, preocupados com a agenda do dia seguinte, sem um momento sequer para refletir sobre o que fizemos e estamos fazendo, sobre quem somos, o que queremos, para onde vamos, no que nosso passado representa para o nosso presente, nas nossas metas pessoais para daqui um, três ou dez anos.

Estamos realmente vivendo de acordo com os nossos ideais? Ou existem amarras que nos prendem ao que sofremos na nossa infância e na nossa juventude, ao que nos conecta com as pessoas do nosso convívio ou mesmo ao que exigem de nós nas atividades que estamos exercendo atualmente?

Se não existe nenhum tipo de amarras, já atingimos a liberdade de ser, vivemos coerentes com o nosso eu interior, temos uma vida plena de acordo com os nossos objetivos de vida?

Em seu livro Liberdade de Ser- Transcender a dor e o medo, Taty Smith nos instiga a responder a essas provocações partindo do resgate de sua própria trajetória de vida. São 199 páginas em que a autora, a partir do que aprendeu em cursos de autoconhecimento aqui e no exterior, expõe sua vida, seu sofrimento, seus conflitos na infância e na juventude sob a educação rígida do pai, seu apego à religião, e nos incentiva a ter coragem para nos libertarmos de tudo que nos causa dor, tomarmos as rédeas de nossa vida e sermos mais felizes praticando o altruísmo na verdadeira acepção da palavra, porque, “quando você sofre muito e pratica a bondade com os outros, seu sofrimento fica pequenininho” (p. 19).

Taty é uma escritora jovem, mas tem uma rica e profunda história de vida. No primeiro capítulo, “Era vidro e se quebrou”, fala de sua infância e juventude em Piracicaba, dos dias passados na casa dos pais e na companhia da avó, que tentavam driblar as dificuldades de uma vida de poucos recursos; de suas crises de asma; das surras que levava; de sua fuga para o convívio com as freiras, tentando não só amenizar seu sofrimento, mas também não sucumbir e deixar de viver.

No segundo capítulo, “Nos passos do medo, seguir os sonhos”, Taty mostra a importância de se traçar objetivos e persegui-los. Narra sua vida em São Paulo (aonde foi para estudar jornalismo e teatro), os empregos por que passou, as grandes dificuldades para sobreviver, o preconceito – assédio moral – que sofreu de seu empregador. Revela como foi vendo e entendendo sua vida familiar de outra forma, com um olhar de compaixão. Deixa claro que “aprender a caminhar nos passos do medo e realizar seus sonhos é um ato de coragem” (p.73).

No capítulo seguinte, “Transcender a dor e o medo é uma arte”, ela fala dos treinamentos de que participou, inclusive na Índia, de como foram benéficos para sua autoaceitação e para vencer suas limitações. É nele que escreve uma belíssima carta a seu pai, que já está em outra dimensão, reverenciando-o e manifestando sua eterna gratidão: “Acredito que eu só posso tocar o coração das pessoas e as impulsionar para uma vida melhor por causa de tudo o que eu vivi e superei. Hoje eu posso elevar as mãos para o céu e agradecer por ter dado tempo de amá-lo e respeitá-lo como merecia. O respeito tomou o lugar do medo, e isso é maravilhoso” (p.109).

 “Ser feliz é um reflexo das minhas decisões” é o título do quarto capítulo. Nele, Taty mostra aos leitores o poder da gratidão, ponto de partida e ponto de chegada, bem como a importância de conhecer-se, de mudar, se necessário for, para, de fato, ser feliz: “acredito que não vou alcançar a excelência no que faço sem decisões estratégicas para isso, sem passar por mudanças. Não adianta eu querer que as outras pessoas mudem para eu conseguir o que quero. A mudança tem que começar em mim, sempre” (p. 128).

 

Sob o título “Atravessando o espelho interior”, no quinto capítulo, a autora trata da realização pessoal e profissional, do tempo que dedicamos ao trabalho e às nossas relações familiares e sociais, dos talentos e dons de cada um: “quanto mais eu deixo meus talentos e dons respirarem no dia a dia, quanto mais dou espaço e crio oportunidades para que eles se desenvolvam, mais me sinto feliz. Eu amo meu trabalho, mas não sou escrava dele” (p.146).

 

Por último, no sexto capítulo, “De cada fragmento, um espelho novo”, Taty mostra o resgate que fez de sua vida. Poderia ainda estar se lamentando pelos sofrimentos por que passou, fazendo-se de vítima, mas não. Seu depoimento: “Em vez de me desgastar, tentando remendar os cacos para remontar o que ‘era vidro e se quebrou’, optei por fazer de cada pedaço algo novo. O que parecia ser apenas restos transformou-se em riqueza de experiência, de aprendizado, e também na minha evolução como ser humano” (p.174).

Poucas pessoas têm coragem de se expor tanto como Taty Smith o faz em seu livro. Mas ele não é uma narrativa superficial de sua trajetória de vida.  A autora se aprofunda em cada situação, vai entremeando trechos pessoais com lições que formulou a partir dos cursos e treinamentos que frequentou, das pesquisas e dos estudos que realizou.  Por isso, é um livro de autoajuda cuja leitura nos leva a refletir sobre nossa própria trajetória e tentar responder as questões existenciais sempre presentes em nosso cotidiano, muito mais agora, em meio aos avanços tecnológicos que, em vez de nos proporcionar uma vida com mais leveza, nos levam a estar conectados 24 horas por dia, sete dias na semana, construindo relacionamentos superficiais que muitas vezes nos tornam infelizes. Precisamos buscar nossa liberdade se queremos realmente alcançar a verdadeira felicidade.

² Doutora em Linguística Aplicada ao Ensino de Línguas pela PUC-SP, escritora, revisora e diretora da Contexto Assessoria em Língua Portuguesa.

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